Há uma célebre frase, dita por Tom Jobim e reproduzida por diversos políticos em variadas versões: "o Brasil não é para principiantes".
Fato! Os anos passam e o Brasil parece confirmar essa brilhante afirmação do nosso querido maestro.
Pois é... Recentemente o cantor sertanejo Gusttavo Lima indicou que pretende se candidatar ao cargo de presidente do Brasil. Tal fato não seria tão chocante, se não fosse pela recente pesquisa que colocou o cantor sertanejo com chances reais de disputar esse cargo e até ganhar.
Não é tão incomum que personalidades decidam se enveredar na política. Já tivemos Gilberto Gil, Romário, Sérgio Reis, Leila e outros famosos ocupando cargos em ministérios ou no parlamento, mas não me recordo de um famoso almejar o cargo mais alto do poder Executivo Federal antes mesmo de ocupar qualquer outro de menor envergadura. É legítimo? Sim. Tem fundamento? Isso é preciso avaliar. Mas, pelo menos em relação à pesquisa, parece ser viável.
Gustavo Lima não esconde sua preferência eleitoral por nomes da nossa direita e extrema direita. Ronaldo Caiado e Bolsonaro são, respectivamente, provas disso. Mas porque o cantor multimilionário Gustavo Lima trocaria sua agenda de shows, na qual costuma faturar milhões semanais, por um emprego público que não lhe proporcionaria, nem de perto, o mesmo valor, nem mesmo com a soma anual dos seus salários? Não me parece crível que alguém que receba cerca de um milhão de rais por aparição, troque essa bolada por um soldo de quinhentos mil ao ano. A matemática é bem desproporcional.
Segundo ele, o motivo seria sua insatisfação com a política brasileira e a necessidade de alternativas. Temos que convir que nossa atual política anda bastante conturbada, inclusive com riscos efetivos à Democracia e uma insuportável e constante disputa de narrativas que acomete a todos nós, transformando o tema em fonte de calorosas discussões, tanto nas redes sociais, passando por reuniões de família e desaguando no Congresso Nacional. Nem os deputados e senadores, que deveriam ser os mais "políticos", estão sabendo controlar seus ímpetos. É um tremendo show de horrores.
A política brasileira virou mesmo um território inóspito para pessoas que possuem um viés conciliatório e que gostam de debater dentro das normas de civilidade e ética. O último Presidente da República é prova e parte nisso. Quem imaginaria que um militar, praticamente expulso do Exército, que já deu as mais estapafúrdias declarações (como a de que iniciaria uma guerra civil se fosse preciso ou que daria um golpe de Estado) seria eleito presidente? É um sintoma de que nossa saúde política anda muito mal.
Por outro lado, Lula, embora seja um grande estadista, se envolveu em um enorme escândalo de corrupção que, apesar de ter sido conduzido por um juiz parcial, desonesto e despreparado, fez transbordar toda a escrotidão do submundo da política que, em outros tempos, seria suficiente para manchar de vez sua trajetória e reputação, a ponto de não mais ser eleito. Mas foi eleito.
Nesse contexto, imaginar que Gusttavo Lima possa ser o candidato da direita, em meio a esse turbilhão em que vivemos, não chega a ser algo surpreendente. Ainda mais após assistirmos estarrecidos ao coach Pablo Marçal, o tresloucado mitomaníaco, que deve ser condenado e tornado inelegível antes de 2026 por suas diversas bizarrices na campanha eleitoral para a Prefeitura de São Paulo. Sobre essa possibilidade levantada pelo cantor, a de concorrer à presidência, já houve o primeiro rosnado do ex-presidente dizendo "o candidato sou eu". Dessa forma ele deve conduzir até o último minuto permitido para a inscrição de outro nome à chapa pelo Partido Liberal. Provavelmente o nome apontado pelo clã seja o de Eduardo Bolsonaro.
Comparando Gusttavo Lima ao clã Bolsonaro e a Pablo Marçal, o sertanejo parece possuir alguns parafusos a mais. Só não dá para esconder a minha decepção com o que vem se tornando a política, com o surgimento e ascensão das figuras mais grotescas que a História do Brasil aparentemente já teve.

Excelente análise... em 1989 Silvio Santos aventou ser presidente da república... e com enorme engajamento de votos (30%) assim como demonstrado agora para essa figura meramente "conhecida" da população... de fato: triste... que política é essa? Seus textos são esclarecedores, parabéns.